domingo, 26 de abril de 2009

Resposta ao nosso amigo Frederico.

Em comentário recente ao texto "Debate na Ceilândia", Frederico, um assíduo comentador aqui do blog, apresentou, embora inconclusivamente, um excelente ponto de vista acerca de nossa posição crítica e oposta à maneira como foi conduzida a mobilização social do movimento Fora, Collor!. Estamos aqui, pois, tentando reafirmar uma posição e explicar de maneira mais clara como vemos tal assunto para que se entenda que nossa crítica não é direcionada aos que saíram às ruas, pois esses desempenharam papel exemplar quando o fizeram. Esse texto é destinado a mostrar como o movimento Fora, Collor! foi, em primeiro lugar, sim, conduzido por forças partidárias, que manobraram uma força de indignação popular comum que a sociedade compartilhava à época para satisfazer seus interesses políticos menos nobres; para isso, nada mais óbvio que provar que os movimentos sociais que encabeçaram a mobilização pelo impeachment eram (e continuam sendo) aparelhados pelos partidos políticos. Em seguida, destinaremos um espaço para recordarmos nossa tese de diferenciação entre pressão social e movimentos sociais. Concluiremos, enfim, retribuindo a provocação de debate do nosso colega Frederico, e pediremos que nosso colega Pecuarista volte a postar para que saibamos o que ele tinha a dizer. Comecemos, então!

Provas concretas de que os partidos políticos estavam presentes em massa dentro das manifestações não são, de forma alguma, difíceis de achar. Eu mesmo tenho um panfleto de convocação para uma passeata do Fora, Collor!, na cidade de Uberaba/MG, organizada pelo Sindicato dos Bancários e assinado por este, pelo PT, PDT, PSDB, PCdoB, PCB, PPS... mas não é necessário ter provas históricas assim. A Internet está aí pra isso. Para facilitar o trabalho, pesquisei algumas coisas, que não impede vocês mesmos de irem atrás posteriormente. Eis o que achei:

http://www.youtube.com/watch?v=xL4poBI9zxU




São fotos bem claras. Dizer que "os estudantes faziam questão de rechaçar a participação de partidos políticos. Era um sinal claro de que os partidos não davam conta das reivindicações.", portanto, é faltar com a verdade. Primeiro, porque não eram só estudantes, existiam trabalhadores, como vemos a CGT, a CUT e outros sindicatos diversos presentes. Segundo, porque é obscena a afirmação que se rechacava a presença dos partidos, que muitas vezes, como o próprio colega Frederico afirma quando diz que Lula convoca as manifestações, organizava as passeatas. Não afirmamos aqui que os partidos não podem se manifestar, eles têm militância para isso. Mas dizer que eles não estavam lá, organizando, inflando, puxando grito, ou simplesmente presentes, como a professora negou, é mentir. Pergunte para a professora, novamente, quem discursava à frente do MASP, ao cabo das manifestações... com certeza, não eram estudantes apartidários.

Enfim, passemos a outra etapa do texto, provada a presença dos partidos no movimento de impeachment. Concordamos que estar presente não é o ponto de crítica. O que discordamos é que os movimentos sociais, aparelhados por partidos políticos, utilizam-se de uma catarse social, uma insatisfação social que ocorre durante um período para formar uma massa de manobra que só atende aos seus interesses eleitoreiros. Quando a UNE, num exemplo simplório, está sendo comandada pelo PCdoB, ela não está mais pelos direitos dos estudantes, mas sim pelos interesses do partido político que a comanda. No Fora, Collor! esse também foi o mote dos partidos políticos, e também de outras forças insatisfeitas. Os partidos que não tiveram seu naco de poder à época das eleições de 1989, ou que se indispuseram com o ex-presidente no meio do caminho, aproveitaram-se dessa grande onda de insatisfação social, desse grande anseio por uma política mais justa, dessa indignação generalizada causada por um período recente de abertura democrática e resolveram se aproveitar disso. Unindo o útil ao agradável, chamaram, todos eles, o povo às ruas. Queriam Collor fora do poder, e seria mais fácil que o povo fizesse o trabalho sujo. E o povo, como tinha de ser, atendeu, tamanha era sua indignação.

Não devemos nos iludir. Independentemente do partido, por mais à esquerda que ele se posicione, o povo nas ruas sempre é um perigo. Por isso que não é algo desejável que isso se torne um hábito. Logo após a catarse do Fora, Collor! houve, em todo movimento social, uma redução de atividade, e, em todo partido, um certo fechamento para o mundo. O mundo tinha que voltar ao normal, as pessoas tinham de voltar às suas casas. Até porque, eles (sim, eles mesmos, aqueles que subiram nos palanques, tão indignados quanto nós com o sacana do Fernando Collor) sabiam que, se quisessem prosseguir, um dia poderia ser a cabeça deles que estaria a prêmio. Assim foi com FHC, que esteve no Fora, Collor!, e as manifestações populares das privatizações (arquitetadas pelo PT), assim foi com Lula, que também esteve no Fora, Collor!, e as não manifestações populares da época do Mensalão, porque todos os movimentos sociais se calaram.

O ponto é que o povo nas ruas só interessa ao povo. E essa é a tarefa que o MCI se impõe. Pressão social constante. Enquanto os movimentos sociais não pertencerem ao povo, o povo não terá soberania, nem poder para combater os outros três Poderes que já são aparelhados pelos partidos políticos (sim, por que estão assustados? Acham mesmo que o Judiciário seja independente?). Não devemos esperar por heróis. Devemos, sim, ser agentes de nossa própria história. Já se têm três poderes em mãos alheias: os movimentos sociais têm de ser nossos, do povo.

E a provocação que eu gostaria de fazer ao colega Frederico é que, apesar de constantemente defender a permanência dos partidos políticos dentro dos movimentos sociais, incrivelmente as pessoas se apressam de maneira surpreendente para dizer que este ou aquele movimento em específico é, ou foi, apartidário. Você consegue ver o porquê dessa ambiguidade? Aguardamos sua resposta.

Gostaríamos que tal discussão não ficasse apenas entre o Frederico e nós do MCI. Participem, interajam, produzam! Um abraço.

Um comentário:

  1. Para contribuir para a discussão... nos lembramos de quando estivemos no Congresso da UBES, em 2005, enquanto membros ativos do Movimento Estudantil. Tanto nas caminhadas, quanto nos GTs e nas plenárias, as bandeiras da UBES e das Uniões Estaduais eram minoria: bandeiras da UJS (União da Juventude Socialista, explicitamente vinculada ao PCdoB), Juventude do PT, PCO, PSTU dominavam as cenas. Ao adentrar um ambiente onde acontecia o GT sobre Movimento Estudantil nacional, fomos abordados pela mesa diretora, na primeira sessão, e questionados sobre nossas origens: "Vocês são da UJS? PT? PSTU?"... respondendo que não, fomos novamente questionados: "Então de que facção vocês são?", e a única resposta que sabíamos dar, embora estranhamente inseguros por dizê-la, foi "Somos estudantes". Ora, ora...

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