quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Debate real

Ultimamente temos visto, por parte do auto-denominado Frederico, comentários atacando pessoalmente membros do MCI. Gostaria de deixar claro que não faz parte de nossa linha de movimento fazer ataques pessoais (especialmente quando se é impossível saber a que pessoa dirige-se o ataque, como é o caso do fake Frederico) e promover debates sobre valores individuais. Queremos aqui engrandecer o debate político, cultural, social, ambiental e tudo que seja relevante de fato.

Juvenil são ataques pessoais. Não fazemos isso, especialmente quando falamos por um pretenso movimento.

Esse post, portanto, contém um apelo para que tal cidadão abandone seu nome de guerra e apresente-se para um debate real com os membros desse movimento acerca tão somente das problemáticas apresentadas aqui, nada mais.

Sugerimos, para facilitar a resposta do auto-denominado Frederico, que ele contra-argumente o texto "Resposta ao nosso amigo Frederico". Porém, pedimos que dessa vez ele (ou ela) o faça com as próprias palavras e opiniões.

Grato,
Alexandre Branco - alebrancop@gmail.com

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Conflitos na USP

Olá, pessoal.

Já faz tempo. Hoje escrevo como estudante da USP, contribuindo com meu depoimento para que essa discussão prossiga. Desde já, peço desculpas, para o caso de não me fazer de todo compreendido. Não sei se meus argumentos são bons ou ruins, ou se tenho bom senso ao proferi-los, e, francamente, isso é irrelevante. Para começar, não se definem argumentos como bons ou ruins, e não se julgam pessoas usando como justificativa o bom senso que, achamos, temos e alguém não tem. Existem argumentos, existe o convencimento, e a dicotomia e o etnocentrismo irrefreado não têm lugar aqui. E, na minha opinião, é justamente por isso que a USP está em greve, assiste a piquetes, a confrontos armados, a conflitos latentes em suas próprias entranhas.

Os funcionários da Universidade entraram em greve. O movimento foi legítimo, válido, e contempla o direito a todos assegurado por nossa Carta Magna há quase 21 anos. Os estudantes também possuíam suas críticas e exigências, relativas a uma ampla série de objetos. Meu objetivo aqui não é discutir as pautas de reivindicações, mas sim a maneira como essas pautas têm sido reivindicadas.

No dia 9 de junho, a Força Tática da Polícia Militar do Estado de São Paulo entrou em confronto com estudantes, funcionários e docentes da USP. Algumas pessoas foram detidas, várias foram feridas, e todas ficaram chocadas. A Universidade é um ambiente incompatível com a violência (embora TODOS os ambientes sejam incompatíveis com a violência, coisa que muitos esqueceram enquanto repudiavam odiosamente a presença da PM), e os eventos daquela terça-feira cinzenta transformaram a greve numa situação muito mais delicada, muito mais complexa, muito mais difícil. Analisemos, pois, o cenário político, frente a frente.

A postura da Reitoria em meio a essa situação é... lamentável. A reitora não parece possuir a sensibilidade inerente ao cargo que ocupa, em termos políticos. É necessário virtù, tanto quanto fortuna. Em meio a piquetes, protestos, gritos e palavras de ordem agressivas e arrogantes, não se devolve na mesma moeda, simplesmente porque isso é ingenuidade. Todo um legado de conhecimento político e diplomático tem sido incansavelmente ignorado, e isso incansavelmente torna a reitora uma figura criticada e odiada pela comunidade (da USP).

O governador do Estado de São Paulo, sim, ignora seu passado como estudante, como lutador em busca da liberdade... mas, noutros argumentos, ele (pensa que) age de maneira astuta e virtuosa: doa a quem doer, a opinião pública (de fora da USP) o verá como o herói que salvou o mundo dos baderneiros malvados. Ora, poupe-me. O governador administra a situação na Universidade sem um mínimo de habilidade, assim como a reitora: manda uns soldados, eles estouram umas bombas, alguns gritos aqui e ali, e tudo fica bem. O Governo do Estado não tem demonstrado capacidade de negociação, autoridade e maturidade, quando se trata de negociar com manifestantes.

Estes últimos não sabem o que fazem. Perdem-se em gritos e palavras padronizadas (Fora PM do Câmpus, Fora Reitora, Fora Governador), atitudes que teriam sido revolucionárias há 40 anos. Os estudantes ora se mostram irresponsáveis, ora se mostram deveras preocupados com sua carreira (política). Muitos dos funcionários recorrem a maneiras radicalmente antidemocráticas de manifestação, sob prerrogativas duvidosas e argumentos falhos, e alguns docentes entram na dança.

Mas os grandes conflitos entranham-se nos grupos e permanecem latentes, eventualmente transbordando em piquetes e confrontos com a PM. A Universidade está dividida entre os pró-greve e os outros. São muitas discordâncias, muitas brigas. E aqui assumo uma posição, em meio a isso.

Os manifestantes reacionários (sim, exatamente) têm direito à greve, a protestos, à liberdade de opinião e de expressão, mas nem por isso podem impedir aqueles (tão livres quanto estes) que não se identificam com a pauta de reivindicações, ou simplesmente com o meio pelo qual tais reivindicações são manifestadas, de frequentarem aulas ou adentrarem o ambiente de trabalho. Piquetes, "cadeiraço", fechamento dos portões da Cidade Universitária... todo um aparato coercitivo é colocado em ação para que aqueles, cuja opinião não concorde com a dos grevistas, sejam forçados a discutir, forçados a pensar como estes, forçados a se juntarem às manifestações... acontece que ninguém acaba sendo forçado, pois o efeito natural e imediato do piquete é muito simples: quem não concorda, vai embora. Só se pode concluir que os manifestantes (que lutam por democracia) não são democráticos.

Temos então que o movimento sindical e o estudantil, na Universidade, são, sim, reacionários, e não os contrários (como eu) à maneira como as reivindicações têm sido conduzidas. O que vem a ser uma pessoa 'reacionária'? É aquela que se manifesta integralmente contrária às ideias de transformação da sociedade (segundo o Dicionário Escolar da Academia Brasileira de Letras). O mundo se transformou. Há 40 anos, os meios eficazes para a mobilização eram os piquetes, os "cadeiraços", os manifestos pichados nas paredes, os grandes cartazes curtos e grossos... eram tempos em que não havia liberdade. A forma eficaz para atacar um sistema ditatorial que atacava com força e opressão era, certamente, força e impulso no sentido contrário. Mas hoje, não. Hoje, há liberdade de expressão e de comportamento. Hoje, as pessoas são livres para entrar em greve (e também para não entrar). Agir com violência é ignorar décadas de luta durante o regime militar, durante as últimas dezenas de décadas. Agir com violência é ignorar os direitos humanos, a diplomacia, o valor da discussão calcada em argumentos racionais. Agir com violência na luta por democracia é agir com incoerência e hipocrisia.

As pessoas que não aderiram à greve têm seus motivos para tal, e não vão aderir a esse movimento enquanto forem alvo de atitudes violentas. Elas podem, sim, aderir à greve, se convencidas a tal. Não se convence uma pessoa a agir de determinada forma na base da porrada, da proibição, da instituição de um poder que decide por ela se é permitido assistir a uma aula ou comparecer ao expediente do dia. É preciso habilidade, compreensão mútua, tolerância, argumentação racional, negociação. E é por isso que não concordo com o movimento pró-greve da USP: eles não têm demonstrado saber o que fazem para conquistar seus objetivos (novamente, afirmo: aqui não discuto os fins, mas sim os meios. Não sou contrário à pauta de reivindicações do Sindicato dos Trabalhadores da USP, mas sim à sua política de não saber fazer política).

O que não me faz favorável à postura assumida pela Reitoria ou pelo Governo do Estado. A reitora se mostrou inapta a negociar, o que necessariamente nos faz refletir o que ela espera de seu próprio legado. Liderança, hoje, não é liderar um grupo radical que vence com base na força, mas sim um grupo que vence com base no convencimento de seus adversários, na formação de alianças e vínculos positivos entre diferentes grupos de interesse, pois isso é diplomacia, e a diplomacia é a forma adequada de se fazer política em tempos de liberdade (não, não adianta gritar que a revolução proletária é hoje e que a tirania da maioria é a forma boa de se governar, pois isso não é mais uma possibilidade). E o que a reitora tem feito é meramente liderar um grupo radical, formado por uns poucos apoiadores, que veem a atuação violenta da PM como solução para seus probleminhas.

O que fazer em meio a dois polos radicais, que se recusam a negociar de maneira racional, e colocam em risco a segurança de toda a comunidade da USP, a todo o tempo? Fugir? Essa tem sido a atitude da maioria omissa, e isso deve ser mudado. Ora, eu tenho sido omisso até poucos dias atrás, e quero ver a Universidade como um ambiente propício ao livre pensamento, à livre expressão do conhecimento, e que de fato essa liberdade seja exercida sem poréns. Conclamo a maioria omissa a sair do armário (parafraseando Dawkins e sua turma) e lutar pelo direito de todos sermos livres e exercermos nossos direitos estabelecidos em sua plenitude. Nem o movimento estudantil e sindical e nem a Reitoria podem nos sujeitar a um toque de recolher implacável.

Agora, para que se solucione a greve, alguém tem que ceder. Que sejam ambos os lados, de preferência, e aqui estaremos para auxiliar e garantir, sempre, a prevalência da liberdade e da democracia, seja na Universidade, seja no País, seja em todas as Nações.

Não há fórmula mágica para a democracia. O que há é a conscientização, a cidadania inclusiva, e é a partir da atuação palpável dos núcleos de base (já tratados neste blog) que isso é possível. Só a sociedade civil organizada, independentemente de suas instituições políticas e coercitivas, pode realizar as transformações de que tanto precisa. Seja feito isso na USP e em todos os cantos onde houver pessoas.

Mudando o recorte... já passou da hora de revermos as estruturas da vanguarda do movimento estudantil que "nos representa". Fica a dica.
Este texto foi enviado por Samuel Ralize de Godoy, estudante de Graduação em Ciências Sociais na FFLCH-USP. Aguardamos sua contribuição para este debate! Envie seus textos, seus argumentos, suas reflexões, vamos transformar a realidade agora mesmo! cidadaniainclusiva@gmail.com

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Ocupação da USP.

Hoje não escreverei em nome do movimento. Assinarei o texto, inclusive, demonstrando que tudo o que disser aqui é pensamento e responsabilidade minha. Meu nome é Alexandre Branco Pereira.

Acompanho chocado os fatos que se desenrolam com os companheiros da USP. Pra começo de conversa, lidamos com uma instituição de ensino que parece ainda herdar as velhas manias dos reitores da época da ditadura. A USP recorrentemente tem aparecido na grande mídia e na mídia independente pelas atitudes antidemocráticas que tem tomado, como expulsão de alunos por motivos políticos e repressão a movimentos sociais do interior da universidade. Mas nada se compara ao recente acontecimento.

Segundo relatos feitos à mim, os companheiros de luta da USP, dessa vez, estavam revoltados com a demissão de um líder sindical dos servidores. Estudantes, combativos e rebeldes, acabaram tomando suas dores. E assim deu-se uma ligeira ocupação da reitoria, barricadas, piquetes e uma série de manifestações em nome de uma causa que, convenhamos, não é das mais importantes. A falta de um dos líderes não acaba com o movimento dos colegas servidores, importantíssimos dentro do processo de luta na comunidade universitária, podendo até ser chamado de injustiça a mobilização de duas categorias inteiras em torno de um só nome.

Mas os recentes acontecimentos apagam essa falta de razão dos estudantes e servidores. Nada pode servir de desculpa para a maneira como a reitoria da USP agiu. Sua reitora, comprovadamente em outras ocasiões antidemocrática, chamou a Polícia Militar (isso mesmo, o braço armado do Estado, conhecido pela sua forma violenta de repressão) para ocupar o campus da universidade. O que, por si só, poderia ser um ato comparavel a 1968 na UnB, ou as diversas outras ocupações de campus universitários pelo aparato militar durante a ditadura, foi agravado quando, durante uma manifestação que relatam ter sido COMPLETAMENTE PACÍFICA, a reitora encomendou ao governador José Serra o Choque da PM.

Já sabemos que os governos do PSDB não primam pela democracia (vide manifestações contra a privatização da Vale do Rio Doce). Toda e qualquer opinião professada contra seus interesses torna-se motivo para a repressão sem escrúpulos por parte de seus governos. O engraçado é que, nos dois exemplos, falamos de ícones da luta contra a ditadura e a repressão, citando Fernando Henrique Cardoso, exilado no Chile e depois na França e José Serra, ex-presidente da UNE combativa, também exilado pela ditadura militar. É de uma incoerência monstro que eles se portem de maneira tão vil contra a manifestação democrática e pacífica de movimentos sociais, ainda que, como já disse aqui, não fosse o caso de tamanho estardalhaço. O governo José Serra, e sua reitora-fantoche perderam total e completamente a razão agora de se portar contra o movimento dos companheiros da USP e não me surpreenderá caso os estudantes, servidores e, quem sabe, professores, endurecerem também.

Abaixo segue o link para acessar um texto enviado a mim pelo companheiro Samuel Ralize de Godoy, estudante de Ciências Sociais da USP, que contém o relato de um professor da universidade sobre como ocorreu a repressão:

http://cidadaniainclusiva.org/page_1239209220270.html

Por isso, repudio veementemente o governo José Serra. Já é hora de tal governo passar a exercer um regime democrático, a praticar a tolerância às opiniões políticas diversas às dele e colocar a Universidade de São Paulo no patamar que lhe é de direito, sem que isso acarrete em bombas ou pauladas.


Alexandre Branco Pereira.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Núcleo de São Paulo se reúne

Olá, pessoal! No próximo sábado, 9/5, às 15h, o núcleo de São Paulo se reunirá para um novo debate. O encontro vai ocorrer no Centro Cultural São Paulo, na rua Vergueiro (ao lado da estação Vergueiro da linha 1-Azul do Metrô).
Por enquanto, recomendamos que os participantes da reunião leiam o conteúdo do blog, principalmente os tópicos marcados como "discussão" e "apresentação" (os marcadores estão na coluna da direita, aqui no blog, para facilitar o acesso a essas postagens), para que tenham uma ideia mais concreta da nossa motivação. Quanto ao que já foi construído até agora, recomendamos que leiam os tópicos marcados como "ação".
Esperamos a participação de todos! Em caso de dúvidas, entrem em contato com o MCI por email (cidadaniainclusiva@gmail.com) ou mesmo por comentários ao blog. O resultado da discussão será divulgado por aqui. Até lá!

domingo, 26 de abril de 2009

Resposta ao nosso amigo Frederico.

Em comentário recente ao texto "Debate na Ceilândia", Frederico, um assíduo comentador aqui do blog, apresentou, embora inconclusivamente, um excelente ponto de vista acerca de nossa posição crítica e oposta à maneira como foi conduzida a mobilização social do movimento Fora, Collor!. Estamos aqui, pois, tentando reafirmar uma posição e explicar de maneira mais clara como vemos tal assunto para que se entenda que nossa crítica não é direcionada aos que saíram às ruas, pois esses desempenharam papel exemplar quando o fizeram. Esse texto é destinado a mostrar como o movimento Fora, Collor! foi, em primeiro lugar, sim, conduzido por forças partidárias, que manobraram uma força de indignação popular comum que a sociedade compartilhava à época para satisfazer seus interesses políticos menos nobres; para isso, nada mais óbvio que provar que os movimentos sociais que encabeçaram a mobilização pelo impeachment eram (e continuam sendo) aparelhados pelos partidos políticos. Em seguida, destinaremos um espaço para recordarmos nossa tese de diferenciação entre pressão social e movimentos sociais. Concluiremos, enfim, retribuindo a provocação de debate do nosso colega Frederico, e pediremos que nosso colega Pecuarista volte a postar para que saibamos o que ele tinha a dizer. Comecemos, então!

Provas concretas de que os partidos políticos estavam presentes em massa dentro das manifestações não são, de forma alguma, difíceis de achar. Eu mesmo tenho um panfleto de convocação para uma passeata do Fora, Collor!, na cidade de Uberaba/MG, organizada pelo Sindicato dos Bancários e assinado por este, pelo PT, PDT, PSDB, PCdoB, PCB, PPS... mas não é necessário ter provas históricas assim. A Internet está aí pra isso. Para facilitar o trabalho, pesquisei algumas coisas, que não impede vocês mesmos de irem atrás posteriormente. Eis o que achei:

http://www.youtube.com/watch?v=xL4poBI9zxU




São fotos bem claras. Dizer que "os estudantes faziam questão de rechaçar a participação de partidos políticos. Era um sinal claro de que os partidos não davam conta das reivindicações.", portanto, é faltar com a verdade. Primeiro, porque não eram só estudantes, existiam trabalhadores, como vemos a CGT, a CUT e outros sindicatos diversos presentes. Segundo, porque é obscena a afirmação que se rechacava a presença dos partidos, que muitas vezes, como o próprio colega Frederico afirma quando diz que Lula convoca as manifestações, organizava as passeatas. Não afirmamos aqui que os partidos não podem se manifestar, eles têm militância para isso. Mas dizer que eles não estavam lá, organizando, inflando, puxando grito, ou simplesmente presentes, como a professora negou, é mentir. Pergunte para a professora, novamente, quem discursava à frente do MASP, ao cabo das manifestações... com certeza, não eram estudantes apartidários.

Enfim, passemos a outra etapa do texto, provada a presença dos partidos no movimento de impeachment. Concordamos que estar presente não é o ponto de crítica. O que discordamos é que os movimentos sociais, aparelhados por partidos políticos, utilizam-se de uma catarse social, uma insatisfação social que ocorre durante um período para formar uma massa de manobra que só atende aos seus interesses eleitoreiros. Quando a UNE, num exemplo simplório, está sendo comandada pelo PCdoB, ela não está mais pelos direitos dos estudantes, mas sim pelos interesses do partido político que a comanda. No Fora, Collor! esse também foi o mote dos partidos políticos, e também de outras forças insatisfeitas. Os partidos que não tiveram seu naco de poder à época das eleições de 1989, ou que se indispuseram com o ex-presidente no meio do caminho, aproveitaram-se dessa grande onda de insatisfação social, desse grande anseio por uma política mais justa, dessa indignação generalizada causada por um período recente de abertura democrática e resolveram se aproveitar disso. Unindo o útil ao agradável, chamaram, todos eles, o povo às ruas. Queriam Collor fora do poder, e seria mais fácil que o povo fizesse o trabalho sujo. E o povo, como tinha de ser, atendeu, tamanha era sua indignação.

Não devemos nos iludir. Independentemente do partido, por mais à esquerda que ele se posicione, o povo nas ruas sempre é um perigo. Por isso que não é algo desejável que isso se torne um hábito. Logo após a catarse do Fora, Collor! houve, em todo movimento social, uma redução de atividade, e, em todo partido, um certo fechamento para o mundo. O mundo tinha que voltar ao normal, as pessoas tinham de voltar às suas casas. Até porque, eles (sim, eles mesmos, aqueles que subiram nos palanques, tão indignados quanto nós com o sacana do Fernando Collor) sabiam que, se quisessem prosseguir, um dia poderia ser a cabeça deles que estaria a prêmio. Assim foi com FHC, que esteve no Fora, Collor!, e as manifestações populares das privatizações (arquitetadas pelo PT), assim foi com Lula, que também esteve no Fora, Collor!, e as não manifestações populares da época do Mensalão, porque todos os movimentos sociais se calaram.

O ponto é que o povo nas ruas só interessa ao povo. E essa é a tarefa que o MCI se impõe. Pressão social constante. Enquanto os movimentos sociais não pertencerem ao povo, o povo não terá soberania, nem poder para combater os outros três Poderes que já são aparelhados pelos partidos políticos (sim, por que estão assustados? Acham mesmo que o Judiciário seja independente?). Não devemos esperar por heróis. Devemos, sim, ser agentes de nossa própria história. Já se têm três poderes em mãos alheias: os movimentos sociais têm de ser nossos, do povo.

E a provocação que eu gostaria de fazer ao colega Frederico é que, apesar de constantemente defender a permanência dos partidos políticos dentro dos movimentos sociais, incrivelmente as pessoas se apressam de maneira surpreendente para dizer que este ou aquele movimento em específico é, ou foi, apartidário. Você consegue ver o porquê dessa ambiguidade? Aguardamos sua resposta.

Gostaríamos que tal discussão não ficasse apenas entre o Frederico e nós do MCI. Participem, interajam, produzam! Um abraço.

sábado, 25 de abril de 2009

Debate na Ceilândia.

Como anunciamos dias atrás, hoje foi o dia da visita de GOG à Ceilândia. O debate durou cerca de uma hora e meia e foi extremamente proveitoso. Assim que compilarmos todo o conteúdo das discussões (que perpassou a situação política do país, a crise econômica mundial, movimentos culturais brasileiros e internacionais [GOG é membro do Conselho Nacional de Cultura], em especial o hip-hop, cotas para negros nas universidades brasileiras e a questão racial como um todo e pequenas pontuações sobre movimentos sociais, além de convocações constantes para que todos ajam), publicaremos aqui para que todos tenham contato com as reflexões dos estudantes do Cursinho Comunitário e do poeta do rap.

Continuem acompanhando!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

GOG na Ceilândia 2.

Combinadíssimo: GOG confirmou presença na Casa Brasil Ceilândia, local de surgimento de nosso primeiro núcleo de base. Sua tarefa, como já explicado, será discutir com a galera do cursinho comunitário sua visão de mundo, sua trajetória de vida, dialogando isso com a visão comum, com os pontos em que encontramos interseção com a vida de quem está na Ceilândia. Como também já dissemos, nossa tarefa será pensar a Ceilândia e pensar o mundo, para que possamos agir sobre ele e modificá-lo a nosso favor, através da ação de base.

Confirmando: no dia 25/4 GOG estará na Ceilândia, na CNN 01 - Bloco E, Ceilândia Centro, na Casa Brasil Ceilândia às 14h30.

Após a visita de GOG, publicaremos o que foi discutido com ele, aqui no blog. Compareçam, discutam e, depois, fiquem de olho!

terça-feira, 21 de abril de 2009

GOG na Ceilândia.

O rapper GOG, nascido e crescido na Ceilândia e hoje nacionalmente conhecido por suas músicas, aceitou convite para bater um papo com o pessoal do cursinho pré-vestibular comunitário, onde surgiu o primeiro núcleo do MCI no Distrito Federal. Ainda sem data marcada, estamos discutindo com a produção do GOG a possibilidade de esse encontro ocorrer no próximo sábado, dia 25/4.

Conhecido não só pela sua fama de poeta do rap, GOG é um ativista político de primeiro escalão, e o encontro com o pessoal da Ceilândia se tratará disso. Discutir sua trajetória, sua visão de mundo e ouvir o que o pessoal de lá tem a dizer sobre a cidade e seus problemas. Pensar o mundo, começando por pensar a Ceilândia, será a tarefa do próximo sábado, se tudo der certo, para que possamos agir e mudar a realidade cruel que se apresenta diante de nós.

Assim que houver uma confirmação entre o MCI e a produção do GOG, voltaremos a publicar aqui no blog. Fiquem atentos!


Com vocês, Brasil com "P", de GOG:

Pesquisa publicada prova:
Preferencialmente preto
Pobre prostituta pra polícia prender.
Pare, pense: por quê?
Prossigo.
Pelas periferias praticam perversidades
PM's.
Pelos palanques políticos prometem, prometem...
Pura palhaçada.
Proveito próprio.
Praias, programas, piscinas, palmas!
Pra periferia:
Pânico, pólvora, pá, pá, pá!
Primeira página.
Preço pago:
Pescoço, peitos, pulmões perfurados.
Parece pouco?
Pedro Paulo,
Profissão: pedreiro.
Passatempo predileto:
Pandeiro.
Preso portando pó, passou pelos piores pesadelos.
Presídio, porões, problemas pessoais
Psicológicos. Perdeu parceiros, passado presente.
Pais, parentes, principais pertences.
PC: Político privilegiado, preso, parecia piada.
Pagou propina pro plantão policial.
Passou pelo porta principal.
Posso parecer psicopata,
Pivô pra perseguição
Prevejo populares portando pistolas,
Pronunciando palavrões
Promotores públicos pedindo prisões,
Pecado. Pena? Prisão perpétua.
Palavras pronunciadas
Pelo poeta, irmão...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O MCI e a Revolução

Saudações! Desde que nosso blog entrou em operação, além, é claro, do próprio Movimento pela Cidadania Inclusiva, enunciamos princípios e ideais que, frequentemente, trouxeram novos debates, novas discussões, novas reflexões. Essa é nossa primeira vitória. Mas um movimento que procura, o tempo todo, reinventar a si mesmo e à sociedade, tem a necessidade de esclarecer sua posição política, ideológica e palpável no mundo.
Com o objetivo de trazer esses esclarecimentos e novos debates, e apoiados nos tópicos até agora tratados, tanto no blog, quanto através de emails e discussões desenvolvidas pelos núcleos de base já ativos, publicamos agora este texto, buscando tornar mais concreta uma ideia que, para muitos de nós, tem parecido muito abstrata ou mesmo indefinida.
Construir um movimento social requer, ao menos, uma prerrogativa: estar insatisfeito com algo. E estar insatisfeito com algo é marcar uma posição. Nossa epígrafe anuncia o caráter do Movimento, um movimento social de esquerda, que se alinha aos ideais de equidade, justiça social e democracia. Contudo, qual movimento, qual partido, qual união de classe não proclama as mesmas ideias, os mesmos horizontes? Qual movimento social de esquerda não propõe a Revolução?
Esse é o momento de definir o MCI e seu modo de ação. Somos um movimento de esquerda (uma esquerda que se definiu por suas insatisfações e por seus ideais, sem a ideia de segregação, divisão da sociedade ou mesmo anomia), que pretende se erguer a partir da base, sem queimar etapas. Núcleo a núcleo, sendo cada um destes formado por indivíduos (e nunca negando isso), valorizando a contribuição de cada indivíduo para seu núcleo e de cada núcleo para o conjunto destes, evitamos a tentativa (tão comum a vários movimentos sociais) de compor, de imediato, um coletivo forte.
Pouco a pouco, portanto, com núcleos crescendo e atuando, o Movimento se contrói. Muito mais fácil perder o entusiasmo e a esperança, não? Esse é um dos maiores desafios que se impõem ao MCI: manter a luta.
E propomos uma Revolução. Não um evento pontual, mas um processo incessante que, dia a dia, a partir da ação de cada núcleo em cada localidade, transforme a realidade em seus mais diversos aspectos (a economia, o meio ambiente, a educação, a cultura, a política...), pois entendemos a Revolução Social não como uma substituição de um modelo político-econômico por outro em dado momento: a Revolução Social que propomos é uma completa e incessante reinvenção do que se entende por sociedade. Toda a política, toda a economia, toda a cultura se transforma, se refaz, se reconstrói, se reinventa, a partir da ação de cada núcleo (não isoladamente, mas todos ao mesmo tempo), de cada indivíduo.
Nossa concepção não é composta pela divisão da sociedade em classes bipolares, que se esmagam eternamente durante a história; ou melhor, nossa proposta não limita a luta à vitória de um grupo sobre outro. Toda teoria tem seu valor e merece ser estudada e discutida, pois toda teoria traz benefícios imensuráveis à luta de todo movimento social. Entretanto, o MCI vem propor uma completa transformação da realidade a partir da revolucionária ideia de que as pessoas, como indivíduos integrantes da sociedade, têm cada uma seu papel de transformação, e esse potencial é aproveitado quando essas pessoas têm condições para perceber a si e o mundo à sua volta; quando têm condições para perceber o que é certo e o que é errado, não por esses conceitos serem ensinados ou estarem escritos em determinada obra, mas por todas essas pessoas serem capazes, por si só, de reconhecer certo e errado, bem e mal, justiça e injustiça.
O Movimento pela Cidadania Inclusiva, como outros presentes na história, é um movimento verdadeiramente revolucionário. Pode não ser um movimento anarquista ou marxista (embora todos tenham objetivos finais comuns, já que todos adotaram a posição de esquerda, já que todos buscam a igualdade, a justiça, a liberdade, a democracia, o fim de opressões...), mas é, como vários daqueles, um movimento revolucionário. A Revolução que propomos é dada no plano real, palpável, próximo e imediato. Os indivíduos como cidadãos, detentores de direitos e deveres, exercem um verdadeiro Poder Moderador (de forma diferente do que houve na História do Brasil: estamos reciclando essa expressão), na medida em que controla, pressiona, fiscaliza, proíbe e intima os governos, as assembleias e os magistrados. Ao mesmo tempo, exerce função de Poder Executivo popular, promovendo ações e deliberações que transformem o mundo imediatamente à sua volta. A Democracia participativa e direta, portanto, torna-se possível e muito próxima através da ação dos núcleos de base. Revolucionário, não?
Diferenças: o MCI surge da base e finca os dois pés nela. Não há cúpulas. Só há ação com núcleos ativos, e só há núcleos ativos se constituídos por indivíduos conscientes, capazes de pensar e agir de acordo princípios construídos a partir de suas próprias reflexões. Assim, enunciamos: o MCI não possui dogmas. Temos, sim, uma direção a seguir, um horizonte - o que não é equivalente a dizer que temos cláusulas pétrias, soberanas e irrevogáveis... o MCI, seus conceitos e ações, tudo é deliberado e posto em prática pelos núcleos, pelos cidadãos, de forma que a gestão desse Movimento é em essência e realmente democrática.
Em tese, o Cidadania Inclusiva pode parecer um movimento meramente idealista, ao ponto de ser ingênuo, e a prática será, de fato, árdua e possivelmente desestimulante. Novamente, esse é um grande desafio. Estamos aqui para transformar esse conceito, para estimular a luta pela conscientização e, mais que isso, pela ação transformadora da realidade social. Não praticamos a luta através de lobby, coalizões, convênios com instituições políticas (sejam essas instituições os três Poderes, os partidos políticos, os órgãos representativos de classes, as organizações privadas...), mas pela ação direta dos cidadãos unidos como cidadãos, insatisfeitos e dispostos a revolucionar o mundo em que vivem, por si só, como cidadãos.
Transformar paradigmas, revolucionar a realidade: princípios tão amplos e por vezes distantes, mas o Movimento pela Cidadania Inclusiva tem a intenção pura de não só aceitar os desafios que recebe diariamente, como também trazer novos desafios. É nesse recorte que convidamos todas as pessoas insatisfeitas a lutar conosco, transformar sua realidade e conquistar uma sociedade melhor para todos.
Talvez um texto tenha falhas, e por isso esperamos o seu contato, seja por email (cidadaniainclusiva@gmail.com), seja por comentários ao blog, seja (e preferimos assim) montando seu núcleo para refletir, discutir e transformar a sociedade!
Para a publicação deste texto, agradecemos as contribuições de Alexandre Branco Pereira (MCI/Distrito Federal), Bárbara Bastos Borges (Ribeirão Preto/SP) e Ricardo Takiguti Ribeiro (São Paulo/SP).

terça-feira, 14 de abril de 2009

Subsídio para discussão

Oi, pessoal! Nos últimos dias, o blog tem sido menos atualizado. Estamos construindo núcleos, ações, além de novas ideias para o Movimento, e tudo passará a ser amplamente transmitido por aqui.
Toda a concepção do MCI, além de objetivos consequentes, visa a estimular a discussão e o diálogo construtivo, muito necessários aos nossos objetivos. Nesse recorte, publicamos aqui um texto enviado por um amigo, Ricardo "Japa" Takiguti Ribeiro, que trata justamente de conflitos e contradições.
Ricardo é estudante de graduação em Ciências Sociais, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, na capital paulista.
"genial, espero mesmo que sua descrição tenha sido o retrato do MCI, fiquei bastante interessado apesar de algumas reservas pessimistas... Mais sobre pensar um paradoxo da política de que a democracia elege as pessoas que entrarão em conflito sob a instituição Estado pra supostamente representar aquelas vontades que estão fora do nosso alcance na vida cotidiana. A idéia de que essa representação nunca é perfeita porque de tão dominados até o pescoço com a impossibilidade de nos realizar como sujeito autonomo, em que 99% da nossa vida acontece fora do nosso alcance da decisão, inclusive contra nós, nos conformamos e nos rendemos ao individualismo pra que nossa realidade carnal no mínimo não se dissolva antes de refletir sobre um ser monstruoso a ser reformulado levando em consideração a consciência do quanto estamos sendo vacinados ideologicamente pra nos tornarmos doentes na realidade vivida. Como já te disse pessoalmente, a experiência da realidade nunca é suficiente pra supormos que o objetivo que buscamos é válido, até porque o esclarecimento que culmina em convicção está fadado a se arrogar portador de uma vontade coletiva que se desmascara facilmente a partir dos critérios induzidos, os quais nos forçam a engolir como a vontade de que não estamos conscientes que possuímos. Não é convincente. A realidade é um substrato vazio regido pelo acaso de que tiramos impressões infinitas e diferenciadas sem que ela se apresente como algo que por si mesmo tem valor explicativo. Se essa consciência da contradição pretende se validar como privilegiada para que atribuamos à mesma a responsabilidade sobre a ação, tudo se sujeita ao desmoronamento, seja quando as supostas vontades organizadas se disferenciem quanto à forma da ação, revelando o quanto é inseparável do individualismo, seja quando tapa os ouvidos pra possíveis vontades alheias, reduzindo-as a uma irracionalidade e, assim, desorientando-se da responsabilidade que lhe foi atribuida. a esfera eleitoral que, como você disse, constrói a ação de cima pra baixo, do partido para os estudantes, confere ao partido um foco de motivação para a ação. Há uma agonia de viver em uma realidade em que a esfera do conflito nos foi reduzida até o ponto máximo da perda de sentido de nossa ação para a realização de um ser autêntico que almejamos, em que a ação se encadeia a infinitas coisas que se revertem contra nós depois de perdermos sua trajetória, que nos faz sentir impotentes de fato. Enfim, deveriam estas pessoas sensíveis ao núcleo duro da realidade aprender a tolerar o horror ao invés de incitar o combate em seus níveis mais impulsivos? com técnicas coercitivas sobre o reconhecimento da necessidade da ação por omissões e justificativas que só reafirmam uma informação vazia de sentido por si mesma, enfim, colocando os próprios preconceitos sob o pedestal máximo da razão ao tentar amplificar berros de agonia que não dizem nada sobre o que deve ser feito? resumindo, esse algo a ser feito deve ser negociado, sob a idéia de responsabilidade, (que, como vejo, além de forçar interpretações sobre o quão agonizante é a situação sem justificativas adequadas, tem um esclarecimento insuficiente pra levar em consideração o fato de o usufruto do bem comum ou público como eles mesmos dizem, interferir sob qualquer circunstância na vida de todos que dele se utilizam, tendo, portanto, todos responsabilidade sobre a forma de ação que deve ser engendrada, sem que ninguém monopolize a própria agonia como representante maxima da racionalidade de uma ação impulsiva), e não de conscientização sobre convicções próprias, espero ter deixado isso claro. Infelizmente estamos longe de ver no ME a possibilidade de alguém se sentir motivado por outra coisa que não seja o desespero pra agir politicamente ou interesses relacionados aos partidos, que colocam em risco a vontade alheia, que lida com calculos de vantagens e desvantagens sobre as situações não menos significativos. é isso, voltando ao MCI depois de ter viajado um pouco. Se eu não estivesse no 4o ano apostaria em possibilidades de iniciativas desse tipo entrarem pro ceupes. Pelo menos assim não pensariamos que o ceupes é o orgao representativo do movimento estudantil no curso (como muitos confundem), mas que lida com situações mais especificas aos próprios alunos tenham eles ou não vinculos com o ME, logo aos partidos e toda parafernália ideológica que nenhum estudante é obrigado a ter pra possuir interesses significativos sobre o prédio."
A discussão por ele proposta terá continuidade numa próxima postagem. Até lá, aguardamos seu comentário! Seja no blog ou por email (cidadaniainclusiva@gmail.com), envie sua contribuição!