Provas concretas de que os partidos políticos estavam presentes em massa dentro das manifestações não são, de forma alguma, difíceis de achar. Eu mesmo tenho um panfleto de convocação para uma passeata do Fora, Collor!, na cidade de Uberaba/MG, organizada pelo Sindicato dos Bancários e assinado por este, pelo PT, PDT, PSDB, PCdoB, PCB, PPS... mas não é necessário ter provas históricas assim. A Internet está aí pra isso. Para facilitar o trabalho, pesquisei algumas coisas, que não impede vocês mesmos de irem atrás posteriormente. Eis o que achei:
http://www.youtube.com/watch?v=xL4poBI9zxU
São fotos bem claras. Dizer que "os estudantes faziam questão de rechaçar a participação de partidos políticos. Era um sinal claro de que os partidos não davam conta das reivindicações.", portanto, é faltar com a verdade. Primeiro, porque não eram só estudantes, existiam trabalhadores, como vemos a CGT, a CUT e outros sindicatos diversos presentes. Segundo, porque é obscena a afirmação que se rechacava a presença dos partidos, que muitas vezes, como o próprio colega Frederico afirma quando diz que Lula convoca as manifestações, organizava as passeatas. Não afirmamos aqui que os partidos não podem se manifestar, eles têm militância para isso. Mas dizer que eles não estavam lá, organizando, inflando, puxando grito, ou simplesmente presentes, como a professora negou, é mentir. Pergunte para a professora, novamente, quem discursava à frente do MASP, ao cabo das manifestações... com certeza, não eram estudantes apartidários.
Enfim, passemos a outra etapa do texto, provada a presença dos partidos no movimento de impeachment. Concordamos que estar presente não é o ponto de crítica. O que discordamos é que os movimentos sociais, aparelhados por partidos políticos, utilizam-se de uma catarse social, uma insatisfação social que ocorre durante um período para formar uma massa de manobra que só atende aos seus interesses eleitoreiros. Quando a UNE, num exemplo simplório, está sendo comandada pelo PCdoB, ela não está mais pelos direitos dos estudantes, mas sim pelos interesses do partido político que a comanda. No Fora, Collor! esse também foi o mote dos partidos políticos, e também de outras forças insatisfeitas. Os partidos que não tiveram seu naco de poder à época das eleições de 1989, ou que se indispuseram com o ex-presidente no meio do caminho, aproveitaram-se dessa grande onda de insatisfação social, desse grande anseio por uma política mais justa, dessa indignação generalizada causada por um período recente de abertura democrática e resolveram se aproveitar disso. Unindo o útil ao agradável, chamaram, todos eles, o povo às ruas. Queriam Collor fora do poder, e seria mais fácil que o povo fizesse o trabalho sujo. E o povo, como tinha de ser, atendeu, tamanha era sua indignação.
Não devemos nos iludir. Independentemente do partido, por mais à esquerda que ele se posicione, o povo nas ruas sempre é um perigo. Por isso que não é algo desejável que isso se torne um hábito. Logo após a catarse do Fora, Collor! houve, em todo movimento social, uma redução de atividade, e, em todo partido, um certo fechamento para o mundo. O mundo tinha que voltar ao normal, as pessoas tinham de voltar às suas casas. Até porque, eles (sim, eles mesmos, aqueles que subiram nos palanques, tão indignados quanto nós com o sacana do Fernando Collor) sabiam que, se quisessem prosseguir, um dia poderia ser a cabeça deles que estaria a prêmio. Assim foi com FHC, que esteve no Fora, Collor!, e as manifestações populares das privatizações (arquitetadas pelo PT), assim foi com Lula, que também esteve no Fora, Collor!, e as não manifestações populares da época do Mensalão, porque todos os movimentos sociais se calaram.
O ponto é que o povo nas ruas só interessa ao povo. E essa é a tarefa que o MCI se impõe. Pressão social constante. Enquanto os movimentos sociais não pertencerem ao povo, o povo não terá soberania, nem poder para combater os outros três Poderes que já são aparelhados pelos partidos políticos (sim, por que estão assustados? Acham mesmo que o Judiciário seja independente?). Não devemos esperar por heróis. Devemos, sim, ser agentes de nossa própria história. Já se têm três poderes em mãos alheias: os movimentos sociais têm de ser nossos, do povo.
E a provocação que eu gostaria de fazer ao colega Frederico é que, apesar de constantemente defender a permanência dos partidos políticos dentro dos movimentos sociais, incrivelmente as pessoas se apressam de maneira surpreendente para dizer que este ou aquele movimento em específico é, ou foi, apartidário. Você consegue ver o porquê dessa ambiguidade? Aguardamos sua resposta.
Gostaríamos que tal discussão não ficasse apenas entre o Frederico e nós do MCI. Participem, interajam, produzam! Um abraço.