quinta-feira, 11 de junho de 2009

Ocupação da USP.

Hoje não escreverei em nome do movimento. Assinarei o texto, inclusive, demonstrando que tudo o que disser aqui é pensamento e responsabilidade minha. Meu nome é Alexandre Branco Pereira.

Acompanho chocado os fatos que se desenrolam com os companheiros da USP. Pra começo de conversa, lidamos com uma instituição de ensino que parece ainda herdar as velhas manias dos reitores da época da ditadura. A USP recorrentemente tem aparecido na grande mídia e na mídia independente pelas atitudes antidemocráticas que tem tomado, como expulsão de alunos por motivos políticos e repressão a movimentos sociais do interior da universidade. Mas nada se compara ao recente acontecimento.

Segundo relatos feitos à mim, os companheiros de luta da USP, dessa vez, estavam revoltados com a demissão de um líder sindical dos servidores. Estudantes, combativos e rebeldes, acabaram tomando suas dores. E assim deu-se uma ligeira ocupação da reitoria, barricadas, piquetes e uma série de manifestações em nome de uma causa que, convenhamos, não é das mais importantes. A falta de um dos líderes não acaba com o movimento dos colegas servidores, importantíssimos dentro do processo de luta na comunidade universitária, podendo até ser chamado de injustiça a mobilização de duas categorias inteiras em torno de um só nome.

Mas os recentes acontecimentos apagam essa falta de razão dos estudantes e servidores. Nada pode servir de desculpa para a maneira como a reitoria da USP agiu. Sua reitora, comprovadamente em outras ocasiões antidemocrática, chamou a Polícia Militar (isso mesmo, o braço armado do Estado, conhecido pela sua forma violenta de repressão) para ocupar o campus da universidade. O que, por si só, poderia ser um ato comparavel a 1968 na UnB, ou as diversas outras ocupações de campus universitários pelo aparato militar durante a ditadura, foi agravado quando, durante uma manifestação que relatam ter sido COMPLETAMENTE PACÍFICA, a reitora encomendou ao governador José Serra o Choque da PM.

Já sabemos que os governos do PSDB não primam pela democracia (vide manifestações contra a privatização da Vale do Rio Doce). Toda e qualquer opinião professada contra seus interesses torna-se motivo para a repressão sem escrúpulos por parte de seus governos. O engraçado é que, nos dois exemplos, falamos de ícones da luta contra a ditadura e a repressão, citando Fernando Henrique Cardoso, exilado no Chile e depois na França e José Serra, ex-presidente da UNE combativa, também exilado pela ditadura militar. É de uma incoerência monstro que eles se portem de maneira tão vil contra a manifestação democrática e pacífica de movimentos sociais, ainda que, como já disse aqui, não fosse o caso de tamanho estardalhaço. O governo José Serra, e sua reitora-fantoche perderam total e completamente a razão agora de se portar contra o movimento dos companheiros da USP e não me surpreenderá caso os estudantes, servidores e, quem sabe, professores, endurecerem também.

Abaixo segue o link para acessar um texto enviado a mim pelo companheiro Samuel Ralize de Godoy, estudante de Ciências Sociais da USP, que contém o relato de um professor da universidade sobre como ocorreu a repressão:

http://cidadaniainclusiva.org/page_1239209220270.html

Por isso, repudio veementemente o governo José Serra. Já é hora de tal governo passar a exercer um regime democrático, a praticar a tolerância às opiniões políticas diversas às dele e colocar a Universidade de São Paulo no patamar que lhe é de direito, sem que isso acarrete em bombas ou pauladas.


Alexandre Branco Pereira.

Um comentário:

  1. A presente dissertação é uma contribuição para a tarefa de recuperar a memória de fenômenos históricos nos quais o movimento estudantil cumpriu um papel protagonista no cenário da luta de classes no Brasil. No caso presente, enfocaremos a experiência e as lições do grande ascenso estudantil que se dá no ano de 1968 no Brasil, ressaltando a relação direta que existe entre as concepções políticas da geração de jovens que protagonizou tais lutas, e a experiência então recente da derrota de 1964.

    Busco com isso contribuir para a reflexão sobre quais os caminhos foram trilhados por essa geração, e o que deve ser apropriado e o que descartado criticamente nessas experiências.

    Hoje, quando vivemos um processo de luta como a greve da USP e das estaduais paulistas, no qual está se formando um novo movimento estudantil e, no mesmo processo, se estão começando a destacar novas camadas de ativistas dispostos a tornarem-se verdadeiros militantes revolucionários, o momento é propício e ao mesmo tempo exige que estudemos as principais experiências anteriores, da luta de classes em geral, e das lutas estudantis e universitárias em particular. Devemos fazê-lo, contudo, buscando que o peso da história dessas gerações anteriores não seja meramente uma “saudação à bandeira” de suas lutas, mas uma verdadeira escola de formação prática e teórica frente aos desafios que já nos serão impostos. Isso é ainda mais importante se pensarmos que, enquanto a geração que protagonizou os acontecimentos relatados a seguir tinha o jugo da ditadura a radicalizar suas concepções e seus ideais, e a fresca memória do maior ascenso de massas para inspirar-lhe confiança na força e criatividade das grandes massas, a geração atual vem avançando a partir de uma posição inicial mais atrasada, dada pelos vinte e poucos anos de democracia burguesa (com seu apelo ao comodismo e à flacidez) e mais uns tantos de ofensiva imperialista “neoliberal” (com todo o ceticismo acerca do socialismo e da revolução operária que esta ofensiva destilou por todos os lados).

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